quarta-feira, 9 de abril de 2014

Mania de Ser Velho


Acordo de manhã, bem cedinho preparo meu café quentinho! Coloco minha boina, e tomando aquele solzinho fraco deixo a gaiola do meu passarinho pendurada do outro lado da rua. Uma prosa rápida com a vizinhança e vamos dar uma volta até a praça. Jogo meu dominó, leio meu jornal e mais conversa fora. Relembro os que já se foram com antigos amigos e volto pra casa; meu almoço me espera. 
Almoço devagar, acompanho meu jornal local, tiro meu cochilo da tarde, faço o favor de buscar meu neto na escola, me atrevo a realizar algum conserto em casa, afinal ainda sou o homem desta casa de fato.
As tardes são sempre as mesmas tardes pra mim... Decido tomar meu banho e depois aproveitar uma brisa no portão de casa, olhando as modas. Ao som de Nelson Gonçalves, que traduz meu sentimento numa frase só: "Boemia, aqui me tens de regresso". Vou assoviando minha canção de mansinho até escurecer. 
Coisa boa isso, acho que foi tudo que eu pedi a Deus. Tomo meu caldo de feijão com farinha, acompanho meu jornal local segunda edição e volto pro meu portão, e não desgrudo do meu radio de pilha não, ouvindo a vanguarda saudosista! O tempo passa, o tempo voa, mas só a poupança Bamerindus continua numa boa, por que a gente? Ah... a gente fica velho, meu filho! E se você não tem dinheiro, sobram para você as lembranças da fanfarra e nada mais. E essas manias que eu vivia dizendo que nunca faria: manias bobas, rotineiras, mania de ser velho; E ser um velho cheio de manias que me fazem feliz!

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